O som é a ferramenta natural mais simples e capaz de alterar o nosso
estado de espírito, o nosso humor e o das pessoas e ambiente à nossa volta. No
ventre, o som, a vibração da voz da nossa mãe, o seu ritmo cardíaco, as suas ondas
emocionais, a orquestra dos seus órgãos em funcionamento, das células que
nascem e morrem, começaram por ser o nosso primeiro contacto com a riqueza vibracional
do mundo exterior. A vibração sonora é a matéria prima com que criamos a nossa
biblioteca de memórias, interiorizamos escalas de emoções, e geramos os
primeiros padrões da nossa inteligência emocional, armazenando e edificando um
conhecimento baseado nas entoações e expressões usadas pelos nossos pais e
cuidadores, construindo assim a estrutura do nosso léxico emocional.
Esse léxico vibracional e emocional tem lugar cativo nas nossas
moléculas de água, e torna-se uma parte estruturada e inconsciente dos nossos
padrões de emoção e reação. Mimetizamos as expressões e entoações dos nossos
ancestrais reproduzindo um património de memórias acumuladas pela nossa
genealogia específica, que conseguimos reativar através da reverberação da
nossa (imensa) água interna. Cada pessoa herda assim uma escala específica de
sons agregados por gerações, que se exprime em parte através da frase melódica
que constitui o nosso nome. O nosso nome (completo) exprime tanto essa tremenda
memória vibracional (nos apelidos) como adiciona o nosso padrão único de
vibração (os nomes próprios), complementado pela sinfonia do nosso corpo em
pleno funcionamento. O nosso nome é o nosso mantra pessoal! Assim, a personalidade pode também ser
definida pela forma única como vibramos e criamos padrões eletromagnéticos
diferenciados, transmitindo uma impressão singular, ímpar, identificadora da
nossa unicidade.
Dar corpo à Voz
Tudo à nossa volta gera ondas, reação, vibração. Tudo vibra de facto. O
corpo humano é uma caixa de som, um aparelho de ressonância capaz de produzir
uma escala de 52 sons essenciais que constituem a base as frequências verbais.
A palavra falada, apesar de emitida ao nível da garganta, reverbera pelo o
nosso corpo inteiro. Falamos com o corpo todo.
Os Vedas – as escrituras sagradas do Hinduísmo – foram escritos em
versos, cânticos tradicionalmente transmitidos na sua versão oral, que
mantinham assim viva a mensagem da Criação, e ativavam o poder terapêutico das
palavras neles contidas. Os mantras contidos nos Vedas tinham – para além do
seu intuito educativo e religioso – a intenção de reorganizarem o padrão
vibracional daquele que os recitasse devolvendo-lhe assim a sua clareza mental,
a sua homeostase, a sua saúde.
Quando cantamos ou falamos criamos som, vibração, estímulos que por
sua vez criam mudanças no fluxo de energia dentro dos órgãos vitais e nas
glândulas. Existem sons que associamos a determinados estados emocionais, e a
reprodução desses sons induz à sensação a eles aliada. Da mesma forma, a
estrutura da nossa personalidade e do nosso ego cristalizou determinados
padrões vibratórios com os quais ressoa, padrões mais sombrios e tóxicos
formados em momentos em que sofremos algum tipo de transtorno emocional, gerando
muitas vezes crenças limitadoras sedimentadas, e no corpo físico, patologia. No
processo de interromper esses padrões vibratórios, diluirmos dramas
cristalizados e libertarmo-nos de memórias trazendo-as à consciência, podemos
usar a mantraterapia.
A palavra tem um poder criativo muito próprio; tanto pode ser
edificadora como destrutiva. A Mantraterapia tem subjacente a intenção de se
usar o poder regenerador da palavra viva, activa, consciente que faz vibrar
centros específicos no corpo, abrindo espaço à mudança e à libertação dos
nossos padrões inconscientes.
A Mantraterapia faz parte dos primórdios terapêuticos da Ayurveda
enquadrando-a também como uma Medicina Vibracional. O Mantra gera foco na
mente, e potencializa uma atitude concentrada, equilibrada, Presente no seu
praticante.
A prática da Mantraterapia pode ser coadjuvada pelo uso de um japa mala – um colar semelhante a um rosário que instiga ao foco e à presença – contando com 108 contas, ou seja, as vezes que o mantra deve ser repetido, tanto sussurrado, cantado, ou recantado mentalmente. A repetição de um mantra terapêutico vai limpando a memória cristalizada e sombria, reprogramando-a com uma mensagem mais positiva, saudável, feliz.
Os sábios praticantes e transmissores da Mantraterapia consideravam a
pronúncia e articulação correta das palavras, fundamental para o efeito pleno
da sua ação, reforçando um carácter mágico, transcendente na atuação do mantra
no corpo e na mente. Felizmente existem também Mestres que enfatizam que a
intenção e a pureza da mente daquele que pratica a Mantraterapia, ressalvando a
sua atuação e eficiência em quem pratica focado no coração. Mentes que vibram
de forma mais focalizada e feliz produzem harmonia e equilíbrio à sua volta.
Mantraterapia no quotidiano: Quem
canta seus males espanta
Cantar de peito aberto, cantar com a Alma, cantar de plenos pulmões.
Quando cantamos com o coração, o nosso esterno tem tendência a vibrar. Essa
vibração aumenta a eficiência do mantra sobre os nossos órgãos vitais que acolhem
as ondas vibratórias curativas, e reajustam o pulsar da sua atividade para um
ritmo mais equilibrado.
Na mente, o mantra tem uma atuação ainda mais significativa já que – à
semelhança da Meditação, e em confluência com ela – ele ajuda a produzir estados
alterados de consciência, serenando a mente, evitando que ela disperse em
cadeias de pensamento inúteis, ao mesmo tempo que a eleva e a sintoniza com a sua
paz interior.
Existem mantras construídos desde de tempos imemoriais, constituídos
por arranjos de sílabas sagradas, variando de uma até vários milhares de
sílabas. Muitos desses mantras são aparentemente vazios de sentido, pois a sua
intenção é evitar a promoção de pensamentos conceptuais, possuindo antes uma
relação misteriosa com o estado vibratório e a consciência de quem os usa.
Os mantras são profundamente adequados ao uso quotidiano, podendo
estar presentes desde que despertamos, no banho, na intenção que damos ao
alimento quando o cozinhamos, quando conduzimos, e obviamente, quando meditamos.
A sua ativação é mais intensa quando colocamos uma intenção na sua entoação, e
tanto os podemos cantar em voz alta, sussurrá-los, como repeti-los mentalmente.
Podemos dirigir o som e a vibração para uma zona específica do nosso corpo,
através da nossa intenção, e é a sua repetição que realmente proporciona reverberações
que ajudam a renovar tecidos e a revigorar o corpo e a mente.
Alguns exemplos de mantras ancestrais e atuais:
OM
“No princípio era o Verbo (OM), e o Verbo
estava com Deus (Brahman), e o Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas
por intermédio Dele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. (João 1.1-3).” Nas
escrituras védicas aprendemos que o mantra original é o OM, formado pelas três
letras A, U, M; significando: Brahma, Vishnu, Shiva - o princípio da criação,
manutenção e dissolução (ou absorção) do Universo. A partir do Om nascem todos
os outros mantras. Os mantras monossilábicos são chamados de bijas (semente), e
o Om é o bija, a fonte dos restantes bijas. Diz-se atualmente que o Om tem a
vibração 8Hz, semelhante à Ressonância Schumann (7,83Hz), ressonância em que
vibra o campo eletromagnético no nosso planeta.
OM MANI PADME HUM
(tibetano) - mantra para harmonizar os Chakras e iluminação
OM TARE TUTTARE TURE SOHA
(tibetano) - produz modificações no nosso interior e em todo o universo à nossa
volta, para além de ser um mantra de cura
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
(sânscrito) – Chamado de Mahamantra, o Grande Mantra, evoca pureza mental e o
mérito (punya) necessários para que a pessoa possa encontrar um bom professor e
tenha a capacidade de entender os seus ensinamentos.
O Gayatri Mantra é um dos mantras mais conhecidos e usados na Índia,
porque é considerado o mais poderoso e criativo, servindo para todos os
propósitos. Para além disso ele promove o desenvolvimento do siddhi (poder) da
cura:
OM BHUR BHUVAH SWAH
TAT SAVITUR VARENYAM
BHARGO DEVASYA DHI MAHI
DHIYO YO NA PRACHODAYAT
Mantra Ho’oponopono adaptado
ao Abraço da Paz:
Este é o mantra da aceitação e do perdão hawaiano e pode ser aplicado
a nós mesmos, e/ou a pessoas, situações que necessitem que pratiquemos a
energia do perdão e do desapego.
EU AMO-ME (Eu Amo-te)
EU PERDÔO-ME (Eu Perdoo-te)
EU AGRADEÇO-ME (Eu Agradeço-te)
EU RESPEITO-ME (Eu Respeito-te)
EU LIBERTO-ME (Eu Liberto-te)
EU ACEITO-ME TAL COMO EU SOU (Eu Aceito-te tal como Tu És)
O propósito último do mantra é assistir o trabalho interior de quem já
escolheu encontrar-se com a sua própria divindade. Nesse caminho podemos criar no
quotidiano as nossas próprias afirmações, os nossos próprios mantras:
“Eu Sou o meu próprio Centro”
“Eu Sou Serenidade”
Mente e Mantra
O nosso cérebro é capaz de segregar muitos dos químicos utilizados
externamente em tratamentos médicos. A utilização dos químicos baseia-me na intenção
de estimular ou substituir algumas dos químicos naturais produzidos pelo cérebro,
melhorando e incrementando o seu funcionamento. As secreções naturais do
cérebro produzem com simplicidade bem-estar, saúde e uma sensação geral de
serenidade. Nas práticas do Yoga e Ayurveda a promoção dessas secreções
salutares é estimulada através de algumas ervas, alimentos especiais,
pranayama, posturas, meditação e mantras.
No Ayurveda, a secreção gerada por uma mente harmonizada é denominada
de amrita - o nosso néctar imortal, elixir da
longevidade, uma água subtil e purificada, capaz de renovar, rejuvenescer e
revitalizar o corpo e a mente, criando um fluxo de bem-aventurança e bem-estar,
movendo-se através dos nadis ou
canais do corpo sutil e pelo sistema nervoso, preenchendo-os com uma sensação
de êxtase e bem-estar. Esta substância aparece associada a um subdosha de Kapha, Tarpak Kapha que
por sua vez surge associado ao conceito de Ojas, a essência de todos os
tecidos, concentrando força, nutrição e vitalidade. O amrita é o produto de uma mente limpa, de uma consciência evoluída,
em ressonância com o Universo.
Por detrás de todas as práticas da rotina diária no Ayurveda está o
foco na promoção de um corpo saudável, uma mente lúcida, criativa, e uma
consciência desperta, disponível para incrementar a paz em torno de si, a
partir da partilha da sua própria experiência. A abordagem ancestral e
visionária do Ayurveda baseia-se na contemplação da Natureza e do seu reflexo e
impacto no Homem, e uma forma clara e compreensível de fomentarmos a felicidade
quotidiana, está na assunção da responsabilidade de treinarmos os nossos
pensamentos, a nossa mente, o curso das nossas intenções utilizando uma técnica
revolucionariamente simples: o mantra.
Soma in Yoga and Ayurveda (David Frawley, Lotus Press 2012)
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